Tivemos a alegria de receber em São Paulo a visita do cardeal Marc Ouellet, canadense, Prefeito emérito do Dicastério para os Bispos e Presidente emérito da Comissão Pontifícia para a América Latina. O Cardeal é teólogo e continua muito ativo na reflexão teológica, apesar de sua idade.

Em São Paulo, ele participou de um simpósio de teologia na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção que, neste ano, completa 75 anos de fundação como Faculdade eclesiástica de teologia. O tema do simpósio é a teologia fundamental do sacerdócio na Igreja Católica. Abordado de diversos ângulos, esse tema se insere no contexto da assembleia do sínodo dos bispos sobre a Igreja sinodal.

O sacerdócio ministerial, exercido por bispos, presbíteros e diáconos, é um bem necessário à vida e missão da Igreja. Sem ministros ordenados, a Igreja não poderia exercer plenamente sua missão e ficaria muito empobrecida, sem a celebração da Eucaristia e de outros sacramentos, e sem o carisma da autoridade-serviço, que dependem dos ministros ordenados. No entanto, o sacerdócio ministerial não pode ser visto como algo isolado e privado no contexto da fé da Igreja e da vida da comunidade eclesial. A reflexão do Cardeal Ouellet aborda a relação do sacerdócio ministerial com o Batismo e com os demais ministérios e carismas na Igreja.

A Igreja de Cristo é o “povo dos batizados”, povo de Deus reunido na fé em Cristo e na graça do Espírito Santo. Esse é o chão comum, no qual todos se encontram dentro da Igreja: somos batizados e recebemos a fé, a esperança e a caridade como dons a serem desenvolvidos, vividos e testemunhados ao longo da vida, como sinais de nossa identidade cristã e da missão confiada à Igreja. E todos também fomos feitos participantes do povo sacerdotal, que testemunha, celebra e proclama a glória de Deus no mundo. Sim, todos somos “testemunhas de Deus”, chamados à santidade e à glorificação de Deus mediante nossa vida de discípulos de Jesus Cristo. São Paulo ensinou que esse é o “culto espiritual agradável a Deus”, que todos devemos oferecer a Deus cada dia. Portanto, participamos do sacerdócio comum a todos os batizados e somos um “povo sacerdotal”. E participamos da missão dada a todos os membros da Igreja, de anunciar e testemunhar perante o mundo o que cremos.

O sacerdócio ministerial situa-se nesse contexto da Igreja, povo de Deus e povo sacerdotal, como um dom e serviço de Cristo sacerdote e dos irmãos. Os ministros ordenados têm a missão de serem representantes visíveis (“sacramentais”) de Jesus Cristo pastor, palavra de Deus e sacerdote. Por meio deles, o povo sacerdotal é instruído e alimentado na palavra de Deus, santificado pelos sacramentos e guiado com amor nos caminhos do Evangelho. O santo povo de Deus não está sem cabeça, sem rumo e sem meios para viver sua dignidade: o sentido e a missão do sacerdócio ministerial estão relacionados intimamente com as necessidades da Igreja, povo de Deus.

O sacerdócio ministerial faz parte da natureza sacramental da própria Igreja. Ela mesma está a serviço de realidades que a superam e produzem seu efeito apenas pela graça do Espírito de Deus. Nesse sentido, compreendemos o que o Concílio Vaticano II diz a respeito da ação sacramental da Igreja: quando a Igreja prega, é Cristo que prega pela boca dos seus ministros e o Espírito Santo produz o efeito da pregação no coração dos que acolhem a palavra de Deus com fé. Quando a Igreja batiza, é Cristo quem batiza e o Espírito Santo realiza na vida de quem é batizado os efeitos sobrenaturais do Batismo. Quando a Igreja, por meio dos seus ministros, perdoa os pecados, é sempre Cristo quem acolhe o pecador com infinita misericórdia e o perdoa. E quando a Igreja, por meio dos seus legítimos pastores, orienta o povo pelos caminhos do Evangelho, é ainda Jesus Cristo, Supremo Pastor da Igreja, quem conduz as ovelhas do seu rebanho.

O sacerdócio ministerial está a serviço do povo dos batizados, para que todos possam viver a plenitude do seu chamado e viver sua condição de povo sacerdotal, profético e pastoral. O ministério sacramental ordenado é um serviço a Cristo e à ação do Espírito de Deus e um serviço necessário à Igreja, povo santo de Deus, povo de batizados em Cristo e chamado à santidade. Isso também vale para as demais vocações na Igreja e ministérios não ordenados na Igreja Católica, bem como para a vocação à vida consagrada e à vocação matrimonial.

Isso não coloca os ministros ordenados “acima” dos outros membros do povo de Deus, mas a seu serviço, segundo o exemplo e a palavra de Deus. Serviço de altíssima responsabilidade, a ser exercido com generosa dedicação e grande humildade. Além disso, é uma grande honra poder servir a Deus e ao santo povo de Deus em mistérios e dons tão elevados.