A solene  celebração  anual  da Páscoa é o ponto alto do Ano Litúrgico, na Igreja. Por isso, é a Páscoa que define o início da Quaresma e a data das celebrações móveis, ou seja, a Solenidade da Ascensão do Senhor, a Solenidade de Pentecostes, a Solenidade da Santíssima Trindade, a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo e a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus.
O Servo de Deus Papa Paulo VI, na Carta Apostólica com a qual aprovou as Normas Universais do Ano Litúrgico e Calendário (NUALC), em 14 de fevereiro de 1969, dizia: “A celebração do mistério pascal, conforme nos ensinou claramente o sacrossanto Concílio Vaticano II, constitui o cerne do culto religioso cristão no seu desenvolvimento cotidiano, semanal e anual”.
O que entendemos por Mistério Pascal? O Mistério Pascal não é simplesmente a Morte e a Ressurreição de Cristo como dois atos sucessivos, mas a passagem de um ao outro, o movimento, a unidade dinâmica do primeiro ao segundo momento dessa realidade indivisível. É o Mistério do Senhor que passa deste mundo ao  Pai, da  vida mortal à gloriosa, pelo caminho da Paixão e da Morte cruenta na cruz, e levando a humanidade pecadora a passar com Ele à presença do Pai, isto é, dando nascimento a uma humanidade nova, concretizada na Igreja que passa do pecado à graça, da escravidão à liberdade e da morte à vida em Cristo (cf. CELAM, Manual de Liturgia II, p. 48).
“Como o Cristo realizou a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus pelo seu mistério pascal, quando morrendo destruiu a nossa morte e ressuscitando renovou a vida, o sagrado Tríduo pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor resplandece como ápice de todo o ano litúrgico” (NUALC, 18).
Quando é celebrado o Tríduo pascal? “O Tríduo pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor começa com a Missa vespertina na Ceia do Senhor, possui o seu centro na Vigília Pascal e encerra-se com as Vésperas do domingo da Ressurreição” (NUALC, 19). “A Vigília pascal, na noite santa em que o Senhor ressuscitou, seja considerada a  “mãe de todas as santas vigílias” (Santo Agostinho, Sermão 219),  na qual a Igreja espera, velando, a Ressurreição de Cristo, e a celebra nos sacramentos. Portanto,  toda  a  celebração  desta sagrada Vigília deve realizar-se à noite, de tal modo que comece depois do anoitecer  ou termine antes da aurora do domingo” (NUALC, 21).
Do Domingo da Ressurreição ao Domingo de Pentecostes vivemos o Tempo Pascal, como um tempo de profunda alegria e exultação; como um tempo para viver a espiritualidade pascal. A característica principal desta espiritualidade  é a nossa participação na vida de Cristo  ressuscitado,  que começou com o nosso Batismo.
 A respeito da espiritualidade pascal,    Frei  Alberto  Beckhäuser,  nos   oferece uma bonita reflexão, no seu  livro  “Viver o Ano Litúrgico”. Ele mostra que a participação na vida de   Cristo   ressuscitado  se   dá      especialmente  por  dois modos: pelo serviço e pela ação.
“Primeiro pelo serviço. Se analisarmos os evangelhos da solenidade da Páscoa e das semanas que se seguem, vemos que Jesus ressuscita, Jesus se manifesta vivo, Jesus se dá a conhecer lá onde se realizam gestos de serviço. Pensemos aqui nas mulheres que vão ao sepulcro para prestar um cuidado ao corpo de Jesus. Maria Madalena, preocupada com o corpo do seu Senhor. Jesus se dá a conhecer… O evangelho dos discípulos de Emaús é um dos mais eloquentes. Jesus manifesta-se aos discípulos que caminham, que o hospedam e  se dá a conhecer quando com Ele repartem o pão. O mesmo podemos perceber às margens do Lago quando todos colaboram para prover o alimento matinal. E podemos acompanhar a caminhada dos domingos da Páscoa. Jesus  está vivo, onde há serviço aos irmãos, onde se vive o mandamento do amor” (o.c. p. 124-125).
 “Em segundo lugar, a espiritualidade pascal  é  de atos, de ações. Neste sentido, é significativo que o livro dos Atos dos Apóstolos está presente em todo o Tempo Pascal… Em que consiste estes atos? Trata-se dos testemunhos do Cristo ressuscitado da comunidade dos primeiros cristãos e especialmente de Pedro e de Paulo” (idem).
“Também para a Igreja hoje a espiritualidade pascal é uma espiritualidade  de  atos  e ações… A Igreja hoje continua a escrever os Atos dos Apóstolos pelo seu testemunho, atos dos apóstolos de hoje, de todos os cristãos, que, participando da vida do Cristo ressuscitado, colocam-se a serviço da vida de seus irmãos” (idem).
 Vivamos intensamente a espiritualidade pascal.
 Dom Moacir Silva, Arcebispo Metropolitano de Ribeirão Preto