Natal é tempo de presentes. Quantos presentes! E quem não gosta de receber um presentinho?! É festa, é alegria e nada é mais natural que presentear, para homenagear e compartilhar a alegria…

Será que já nos perguntamos sobre o motivo do presente de Natal? Qual é a razão da festa, da homenagem, da alegria? Para nós, cristãos, o motivo vem da fé: recebemos de Deus um presente de valor inestimável; estamos muito felizes e agradecidos ao Pai do céu e manifestamos aos outros essa alegria, convidamos a participar de nossa festa e expressamos isso nos presentes, nos votos, nas mensagens de Natal; mas também nas ações de solidariedade e caridade fraterna, indo ao encontro dos que sofrem de diversas maneiras, para que também eles recebam um sinal dessa alegria.
De fato, os presentes de Natal já aparecem na cena do primeiro Natal da história: os “magos do Oriente” prostraram-se diante de Jesus e o adoraram; “depois, abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra” (cf Mt 2,11). E que presentes! Eram a expressão da homenagem ao supremo Deus, ao grande Rei e ao Salvador. Antes, porém, de desembrulhar seus dons, os “reis magos” manifestaram sua fé: “ajoelharam- se diante dele e o adoraram”.
Sem essa percepção da fé sobre o que se celebra no Natal, o presente chama para si toda a atenção e torna-se ele mesmo o grande homenageado. E os presentes, então, precisam ser cada vez maiores, mais caros, mais respondentes aos nossos desejos, vaidades e ambições. Será que o presente de Natal ainda tem sentido?
Pode ter, e muito! A Liturgia do Natal traz uma verdadeira pérola, que nos ajuda a compreender melhor o sentido dos presentes do Natal. Na “Oração sobre as Oferendas”, da missa da noite do Natal, a Igreja pede: “Ó Deus, acolhei a oferenda da festa de hoje, na qual o céu e a terra trocam os seus dons, e dai-nos participar da divindade daquele que uniu a si a nossa humanidade”. Deus nos dá de presente o que tem de melhor: o próprio Filho eterno; e a terra também oferece a Deus o que tem de melhor, embora infinitamente inferior: nossa pobre humanidade. Deus não fica mais pobre, mas nós ficamos infinitamente mais enriquecidos!
Eis porque presenteamos no Natal: estamos muito felizes e queremos que também outros participem da nossa alegria! Nosso gesto será tanto mais significativo, quanto mais tivermos feito, antes, a experiência da adoração daquele que o céu nos presenteou. Assim fizeram os “magos do Oriente” e os pastores de Belém: voltaram da manjedoura “louvando e glorificando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido” (cf Lc 2,20).
Entendo que o gesto de oferecer presentes no Natal, talvez, esteja muito desvinculado de tudo isso que estou dizendo aqui. Dar presentes no Natal ficou muito envolvido numa trama de comércio e de conveniências sociais. Há quem se pergunte, sobretudo quem não é cristão: por que tenho que oferecer presentes de Natal? Por que, todos os anos, a mesma correria das compras de presentes? Por que precisam ser sempre mais interessantes que os do ano anterior? Vistos desse modo, de fato, os presentes de Natal tornam-se um verdadeiro motivo de stress…
A própria festa do Natal vai se desvinculando sempre mais do seu significado cristão originário; acontece muita festa, sem citar o nome de Jesus, até mesmo omitindo a palavra “Natal”. É uma pena que até os votos de “feliz Natal” sejam substituídos por um genérico “boas festas”! Bem, aqui está nossa tarefa de cristãos: não deixemos que se perca na cultura do nosso tempo o significado cristão do Natal e sua referência necessária ao nascimento de Jesus Cristo. Cabe a nós testemunhar ao mundo o significado verdadeiro do Natal.
Não importa que nem todos tenham a mesma fé, como nós temos. No Natal, são os cristãos que oferecem ao mundo o motivo da festa: estamos muito felizes porque comemoramos o nascimento de Jesus Cristo, em quem reconhecemos o Filho de Deus, Salvador. Não temos por que ocultar ou camuflar o motivo de nossa festa! E convidamos todos a se alegrarem conosco.
Afinal, foi o próprio anjo que anunciou, na noite do nascimento de Jesus: “eu vos anuncio uma grande alegria, que será alegria também para todo o povo” (cf Lc 2,10). Preparemos, pois, a festa! E os presentinhos também…
Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO – Edição 3031 –  11 a 16 de dezembro de 2014

Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo e Presidente do Regional Sul 1 da CNBB