“Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm 12,2).
O chamado à santidade é, antes de tudo, um caminho de conversão, isto é, um percurso que comporta as mudanças geradoras de um modo novo e melhor de ser, pensar e agir. Conversão é a tradução da palavra grega metanóia, que significa mudança de mentalidade. A conversão cristã é uma proposta de crescimento na fé, na espiritualidade e na caridade. Atinge a razão, gerando uma compreensão a partir dos critérios de Deus; e atinge o coração na medida em que cria uma nova sensibilidade.
O Evangelho de Jesus Cristo representa o fundamento e a inspiração no processo de conversão; e a comunidade eclesial é o lugar da experiência e da vivência da conversão. É nela que os cristãos vivem relações de fraternidade, amor e comunhão. Quando Jesus afirma: “entre vós não deverá ser assim” (Mt 20,25b-28), está dizendo não ao egoísmo, à dominação e ao acúmulo de bens e privilégios. Quando diz: “vós sois todos irmãos” (Mt 23,8) significa que, entre os cristãos haverá sempre lugar ao amor e à partilha do pão, dos bens e da vida.
O Papa Francisco explica que, antes de tudo, o caminho de conversão leva a assumir a cruz de Senhor e anunciar o Cristo crucificado. Ele afirma que “a cruz, especialmente as fadigas e os sofrimentos que suportamos para viver o mandamento do amor e o caminho da justiça, é fonte de amadurecimento e santificação” (Gaudete et Exsultate, n. 92).
A cruz evoca os sofrimentos inerentes à vida de todo ser humano, mas é também a mística que impulsiona a “abraçar diariamente o caminho do Evangelho, ainda que o mesmo acarrete perseguições e martírio” (GE 94). De fato, “o triunfo cristão é sempre uma cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória” (GE 163). O cristão encontra sentido em sofrer humilhação e injúria por causa de Cristo e do Evangelho.
Outra dimensão da conversão é a abertura ao dom do Espírito Santo que, desde Pentecostes, e no decorrer da História, inspira e conduz a Igreja e sua missão. É impossível resistir ao Espírito Santo, pois Ele sopra onde quer e oferece perenemente seus dons, a começar pela sabedoria, que gera discernimento. O Papa diz que se pedirmos o dom do discernimento “com confiança ao Espírito Santo e, ao mesmo tempo, nos esforçarmos por cultivá-lo com a oração, a reflexão, a leitura e o bom conselho, poderemos certamente crescer nesta capacidade espiritual” (GE 166), pois “somente o Espírito sabe penetrar nas dobras mais recônditas da realidade e ter em conta todas as suas nuances, para que a novidade do Evangelho surja com outra luz” (GE 173).
Fruto da conversão é a caridade; e o ápice da caridade é o serviço aos pobres. A fidelidade do discípulo de Cristo passa pela solidariedade para com os que sofrem, os injustiçados, os excluídos: “tive fome e me deste de comer …” (cf. Mt 25,35). A beleza da Igreja e a felicidade de seus membros consistem em servir com alegria. Tudo o que é feito aos menores dos irmãos é feito a Cristo (cf. Mt 25,40).
O gesto simbólico e ritual de Cristo, na última ceia, de lavar os pés dos apóstolos revela a força do amor, da solidariedade e da humildade. Revela também o impacto do apelo aos discípulos: “se compreenderdes isto e o praticardes, felizes sereis” (Jo 13,17). É no amor que se reconhece ser discípulo de Cristo e no amor está a razão de ser da Igreja.
Dom Pedro Luiz Stringhini, Presidente do Regional Sul 1 da CNBB
Mogi das Cruzes, 16 de junho de 2018