“Se é só para esta vida que pusemos a nossa esperança em Cristo, somos, dentre todos os homens, os mais dignos de compaixão” (1Cor 15,19).

Numa de suas catequeses, o Papa Francisco, refletindo sobre o tema da ressurreição da carne, disse: “Se vivermos unidos a Jesus, se formos fiéis a Ele, seremos capazes de enfrentar com esperança e serenidade também a passagem da morte. Com efeito, a Igreja reza: «Embora nos entristeça a certeza de ter que morrer, consola-nos a promessa da imortalidade futura». (…) Esta é a coisa mais bonita que nos pode acontecer: contemplar face a face aquele rosto maravilhoso do Senhor, vê-lo como Ele é, belo, repleto de luz, cheio de amor e de ternura. Nós vamos até àquele ponto: ver o Senhor!”

A Igreja reza pelos falecidos porque crê na vida eterna. E ela, em sua missão, anuncia a Boa-Nova do Cristo que venceu o pecado, o mal e a morte, e que fará com que os que n’Ele creem vivam para sempre (cf. Jo 11,25-26).

No contexto em que vivemos, em que a morte é vista como um tabu ou concebida como um fim definitivo da vida, é importante que o cristão católico tenha clareza acerca de sua esperança para transmiti-la aos demais (1Pd 3,15-16) e esperançar os corações!

Nós professamos no Credo que Jesus Cristo está sentado à direita do Pai, “donde há de vir a julgar os vivos e os mortos”; e que cremos “na Santa Igreja Católica, na Comunhão dos Santos, na ressurreição da carne e na vida eterna”, ou seja, professamos nossa fé na segunda vinda de Jesus, na ressurreição dos mortos e na vida eterna (cf. CIC, 668-679; 988-1014; 1038-1050; Bula Spes non confundit, n. 19). Essa fé é que nos dá esperança, nos sustenta no momento da dor e nos consola no luto, ajudando-nos a superá-lo: permanece a saudade, mas jamais o desespero. O Deus misericordioso, anunciado e revelado por Jesus Cristo, é Aquele que perdoa e salva (cf. 1Jo 1,7; 1Cor 15,12-19; Jo 5,28-29; Ap 5,12-13), é Deus de vivos, não de mortos (cf. Mc 12,27)!

A fé na vida eterna nos dá força para superar as dificuldades da vida presente e ânimo para perseverar no bem e construir a cidade terrena com os valores do Evangelho, tendo como modelo a nossa pátria definitiva na Jerusalém celeste, nossa mãe (cf. Gl 4,26).

Nossa fé nos diz que, após a morte, todos compareceremos diante de Cristo (cf. 2Cor 5,10). Ali se decidirá nosso destino eterno. É bom lembrar que, mesmo tendo os pecados perdoados por Deus quanto à culpa, nós devemos, por uma questão de justiça, reparar as consequências de nossas faltas, o que nem sempre fazemos. Mesmo sabendo que a salvação é, antes de tudo, graça de Deus, Ele, no entanto, quer que colaboremos com ela (cf. Fl 2,12; 1Cor 9,27), e nem sempre somos tão bons nesse trabalho. Deus, portanto, em sua misericórdia, nos concede uma etapa purificatória para alcançarmos a salvação plena: o purgatório, que é um estado no qual temos a oportunidade de ser purificados dos resquícios do pecado para poder contemplá-Lo definitivamente (cf. 1Jo 3,2; 2Mac 12,42-46; 1Pd 3,19-20; 1Pd 4,6; Mt 12,32; 1Cor 3,10-16). A Igreja, nesse sentido, sempre recordou os fiéis falecidos e implorou para eles a misericórdia de Deus, por meio da celebração da Eucaristia em sufrágio de suas almas, gesto de amor e solidariedade motivado pela fé na vida eterna e na comunhão dos santos.

Que o Senhor nos conceda conservar íntegra e perseverar na fé que recebemos no Batismo, desenvolvê-la e amadurecê-la de modo frutuoso no seguimento de Jesus, dando bom testemunho do bem e da justiça do Evangelho, fortalecidos pela Eucaristia, que é penhor da vida eterna, até o dia em que formos chamados a passar deste mundo para o Pai.

Dom Edilson de Souza Silva
Bispo Auxiliar de São Paulo