Finados: Cremos na Ressurreição da carne e na vida eterna
O Dia de Finados está impregnado de um profundo sentimento religioso, no qual se misturam afeto e recordações familiares com a fé e a esperança cristãs. Por esse motivo, suscita, na dor, esperança na vida do povo de Deus. É uma oportunidade especial para rezar pelos nossos mortos e lembrar a alegre verdade sobre a qual está fundada a nossa fé: a RESSURREIÇÃO.
Temos acompanhado, em todo o mundo, as guerras que causam sofrimento, dor e morte na vida do povo. No Brasil, um alto grau de violência tem matado parte do povo brasileiro, sobretudo os mais pobres da periferia, favelados e negros.
Estamos ainda desgastados pelas mortes causadas pela pandemia e pelos mais de seiscentos mil mortos no Brasil e mais de um milhão no mundo. Tudo isso causa um certo desgaste em nossa fé e em nossa esperança.
Mesmo nesta realidade, somos chamados a vencer o medo pela fidelidade a Jesus Cristo e ao seu Reino. A fé nos ensina que, assim como Cristo vence a morte, nós também venceremos todas as situações de morte com Cristo.
Por que o cristão que tem fé na Ressurreição tem mais facilidade para superar a morte do que quem não crê?
O primeiro motivo é que acreditamos em Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou, e que durante a sua vida já professava a ressurreição dos mortos. Diz São Paulo: “Se o Cristo morreu e não ressuscitou, vã é nossa fé”. Mas nós acreditamos na ressurreição, graças a Jesus Cristo.
Vivemos na esperança de, um dia, encontrarmos o Deus da vida e os nossos irmãos já falecidos. Após a morte, teremos vida plena e conheceremos tudo e todos em totalidade e na sua essência. Viveremos a vida plena, onde ninguém mais vai chorar, sofrer ou ficar triste. Será a plena alegria.
O segundo motivo é que o cristão encontra na comunidade cristã a solidariedade entre os que vivem e professam a mesma fé. A solidariedade, a presença amiga, a oração comum e a partilha do sofrimento com o irmão (ou a irmã) são algo que nos alivia e fortalece. “O sofrimento, quando é partilhado, se torna mais leve.” Por isso, é possível, com menos dificuldade, quem perdeu um ente querido levantar a cabeça e enfrentar a vida novamente.
Toda pessoa aprende a superar a morte. O tempo é o melhor remédio; ele foi feito por Deus para que a nossa ferida vá sendo curada e cicatrizada. Mas a experiência da morte não pode ficar nela mesma; temos que tirar uma lição do sofrimento. E essa lição deve servir para o crescimento pessoal e para o crescimento de toda a comunidade, pois não somos desligados uns dos outros. Somos solidários. Estamos no mesmo solo, partilhamos o mesmo chão, e um é com-solo para o outro.
A experiência que fazemos da morte deve nos levar a sermos melhores para com as pessoas: mais amáveis, mais solidários, mais comprometidos, mais humildes.
Quantas pessoas moram conosco, anos e anos, e nós só as valorizamos após sua morte. Nem sempre damos atenção, tempo, amor, carinho. Valorize-as já. Diz a nossa fé que, pela morte, perdemos um irmão na terra, mas ganhamos um intercessor junto a Deus.
A visita aos cemitérios não deve se reduzir a levar flores aos túmulos ou acender velas. Convém rezar pelos nossos mortos. É a melhor flor. A Bíblia garante: “É santo e piedoso costume rezar pelos mortos” (2Mc 12,45).
Cemitério significa dormitório. É o lugar de repouso, de descanso. Quem está sepultado ali está como que dormindo, aguardando o dia de se levantar para ressuscitar. Outro significado para cemitério é o de hospedaria. É um albergue à beira do caminho, onde o peregrino passa algumas horas ou uma noite para depois continuar a viagem. O cemitério é a hospedaria onde ficamos por um espaço de tempo até o dia da Ressurreição.
Apesar de tantas mortes, que o Dia de Finados reforce a nossa esperança cristã e nos leve a proclamar com firmeza o artigo de fé do Credo:
“Creio na ressurreição dos mortos e na vida que há de vir.” Amém.
Dom Manoel Ferreira dos Santos Junior, MSC
Bispo Diocesano de Registro
								
								
													

