O sonho de Jesus é de que todos os homens se sintam envolvidos a serviço do bem
estar de todos, porque como Deus é Amor e nos chamou a participar de sua vida, cada
um de nós foi criado como um dom para os demais. No entanto vemos uma
impressionante diversidade de situações, sensibilidades, culturas e religiões não
vividas como riqueza a ser partilhada, mas motivação para o confronto que gera
divisões.

Jesus veio para derrubar todo tipo de barreiras, entre nós, criaturas e Deus, para
fazer-nos descobrir que somos irmãos unidos por um vı́nculo que não é apenas
humano: o amor-ágape. Isto pode parecer uma utopia, mas trata-se de uma urgência,
especialmente, no momento atual. E o que nós, como seus discı́pulos somos chamados
a realizar.

Igreja em saída

E neste contexto que deve ser lida a exigência de uma nova evangelização e de uma
virada missionária que impulsionem o Povo de Deus “em saı́da”. Lemos nesta linha o
programa que João Paulo II propôs a toda a Igreja: “avançai para águas mais
profundas” (cf. Lc 5, 4), convidando-nos a não nos fechar em nossas seguranças e em
nossa tranquilidade. Por sua vez o Papa Bento XVI lançou um apaixonado apelo para
“Dizer Deus”, a im de que o ser humano não esqueça as suas raı́zes e sua dignidade de
modo que a fraternidade possua bases sólidas. Papa Francisco, por sua vez, nos chama
constantemente a atualizar a nossa autoconsciência: o cristão não é somente um
“ iel”, mas “discı́pulo missionário”, expressão que emergiu pela primeira vez em 2007,
por ocasião da Conferência de Aparecida.

Na Evangelii Gaudium nós lemos que: “A Igreja “em saı́da” é a comunidade dos discı́pulos
missionários que tomam a iniciativa, que se empenham, que acompanham, que
fruti icam e festejam” (n. 24). E ainda: “não dizemos mais que somos “discı́pulos” e
“missionários”, mas que somos sempre “discı́pulos-missionários”” (n.120). Não apenas
pessoas alicerçadas em Deus, “ iéis”, e “praticantes”, mas essencialmente a caminho:
pessoas que vivendo em comunhão, descobrem dia após dia, coisas novas em contato
com o Mestre e as partilham com os outros.

“Nós cremos no Evangelho que a irma que o Reino de Deus já está presente no mundo
e está se realizando aqui e ali, de diversos modos” (n. 278). Na verdade, a ressurreição
de Jesus é “uma força de vida que penetrou o mundo” (n. 276). “Esta presença não
deve ser construı́da, mas descoberta” (n. 71).

Discípulos-missionários

Somos missionários na medida em que formos verdadeiros discı́pulos abertos a
receber e aprender: “Cada vez que abrimos os olhos para reconhecer o outro, nossa fé
é mais iluminada para reconhecer Deus. Consequentemente, se queremos crescer na
vida espiritual não podemos renunciar a ser missionários” (n. 272).
Portanto, a missão não é conquista, mas procura do bem presente em cada pessoa e
cultura, para fazê-lo germinar e crescer com a colaboração de todos. Portanto, o
anúncio de Jesus e do seu Evangelho inicia com uma profunda escuta do outro de sua
diversidade e unicidade.

O anúncio e a missão, se desejarem ser fecundos, começam com o despojamento dos
próprios esquemas mentais, das próprias raı́zes e da cultura da qual se provém, para
“fazer-se o outro” e conseguir fazê-lo descobrir a novidade evangélica “a partir de
dentro”. Foi o que fez são Paulo: “ iz-me tudo a todos” (1Cor 9, 22). Deste modo
o anúncio não suplanta, mas faz germinar! Trata-se de empreendimento difı́cil, mas
apaixonante.

Dom José Negri, PIME Bispo de Santo Amaro