No dia 12 de fevereiro de 2025, completam-se duas décadas do assassinato de Irmã Dorothy Stang, missionária que dedicou sua vida à defesa dos trabalhadores rurais e da floresta amazônica. Sua trajetória de luta e compromisso com a justiça social permanece viva na memória do povo e na resistência daqueles que seguem defendendo a terra e a vida. Neste artigo, compartilhamos a reflexão enviada pelo Regional Nordeste 5, resgatando o legado de Irmã Dorothy e sua relevância no contexto atual.

“É por causa dos pequenos e oprimidos.
Dos seus sonhos, dos seus ais, dos seus gemidos.
É por causa do meu povo injustiçado.
Das ovelhas sem rebanho e sem pastor.”
— Padre Zezinho
No dia 12 de fevereiro, completam-se 20 anos do assassinato de Irmã Dorothy Stang. Era um sábado, bem cedo, em 2005, quando Irmã Dorothy foi assassinada com seis tiros à queima-roupa, numa estrada do interior de Anapu, Região da Transamazônica, no Estado do Pará.
Irmã Dorothy chegou ao Brasil em 1966, na cidade de Coroatá, Estado do Maranhão, onde dedicou sua vida à defesa dos trabalhadores rurais e da floresta, enfrentando latifundiários para que os camponeses tivessem direito à terra.
Em 1982, mudou-se para Anapu, no Pará, onde, sempre atenta às necessidades do povo, iniciou seu trabalho junto aos trabalhadores rurais e às comunidades, promovendo formações e orientações para que conhecessem melhor seus direitos.
Neste ano, em que se completam duas décadas de seu martírio, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) traz como tema da Campanha da Fraternidade: “Fraternidade e Ecologia Integral” e como lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1, 31). A campanha nos faz recordar o Sínodo para a Amazônia, realizado em 2019, quando Irmã Dorothy foi reconhecida como Mártir da Ecologia Integral.
A Campanha da Fraternidade deste ano nos provoca à conversão ecológica. Precisamos, com urgência, mudar nossas práticas e assumir a responsabilidade de cuidar da nossa casa comum, pois defender a vida é um compromisso de todos nós.
Irmã Dorothy sempre teve um olhar especial para a Mãe Natureza, para a Mãe Terra. Ela sabia cuidar do meio ambiente, das pessoas, da vida. Ao chegar em Anapu, trabalhou ao lado dos trabalhadores rurais dos assentamentos e comunidades, defendendo a floresta como se fosse sua própria vida — e a vida de cada camponês e camponesa que protegia.
A Amazônia, especialmente o Estado do Pará, tem um histórico marcado por conflitos agrários. Desde o massacre de Eldorado dos Carajás, em abril de 1996, quando vários trabalhadores foram mortos, até a chacina de Pau D’Arco, em maio de 2017, onde 10 trabalhadores rurais foram assassinados, a disputa por terra entre fazendeiros e grileiros permanece uma triste realidade. Além da grilagem, o avanço do agronegócio, a expansão das fronteiras agrícolas, a construção de grandes obras de infraestrutura, a mineração e os garimpos ilegais contaminando os rios agravam ainda mais a situação.
Entretanto, as lutas por direitos, terra, moradia e dignidade continuam. O povo resiste ao latifúndio e mantém viva a memória de Irmã Dorothy em suas batalhas diárias.
A luta continua com ardor missionário
Dorothy é lembrada todos os anos. Em julho, realiza-se a Romaria da Floresta, um momento de memória, resistência e compromisso com a justiça social.
Irmã Dorothy não morreu. Ela vive nas lutas e nas conquistas dos trabalhadores e trabalhadoras. Sua causa segue com ainda mais ardor missionário, coragem e fé na construção do Reino de Deus.
Mestra em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia.
Por Vanalda Gomes Araújo


