O Brasil encontra-se hoje em uma encruzilhada. Sofremos os efeitos de mais uma grave crise do capitalismo mundial. Seguimentos políticos que defendem interesses empresariais, bem como a grande mídia, acusam o governo dos últimos anos por essa crise, quando, na realidade, foi esse governo que fez o Brasil avançar e resistir ao impacto da crise, até quando foi possível.
Esta crise, que começou em 2008 nos Estados Unidos e se espalhou em um “efeito dominó” a outras economias nacionais e regionais, afetou, finalmente, o Brasil, em um momento que interessava às grandes corporações multinacionais, sobretudo os detentores do capital financeiro, para diminuírem aqui seus investimentos, por questões obviamente políticas.
O governo popular instaurado no país, apesar de suas contradições e incoerências, afrontava a dinâmica cumulativa do capital, com programas progressivamente democrático-sociais. Esse projeto societário devia, na visão dos grandes grupos econômicos internacionais e seus aliados políticos no Brasil, ser freado. Aproveitaram-se do discurso anticorrupção.
A luta anticorrupção se tornou, sem dúvida, extremamente necessária. Por que, no entanto, o alvo passou a ser quase exclusivamente a corrente política que governou a nação com projetos populares? Se a corrupção está tão generalizada, com fortes indícios de envolvimento do atual governo interino, por que os mesmos manifestantes de ontem não saem novamente às ruas?
Certamente, não têm consciência de que o grande capital atua como vampiro econômico, não se preocupa com os problemas humanos. Objetiva o lucro. Para impulsionar seus projetos, utiliza-se de meios de comunicação, manipuladores da opinião pública que, disfarçados de criticidade, mantêm o povo na ignorância. Em lugar de formação ética e política, difundem diversão e jogos.
Enquanto o povo se diverte e torce por medalhas, o Congresso Nacional se apressa para decidir mudanças nas regras do jogo econômico, visando recompor a rentabilidade do capital, com medidas de ajustes e por meio de projetos que, por exemplo, alteram leis trabalhistas e reformam a previdência, reduzindo direitos dos trabalhadores, conquistados com muita luta.
Como sair dessa encruzilhada? Centrais sindicais e movimentos populares empenham-se em ações conjuntas que demonstram insatisfações dos trabalhadores com esses projetos e com a tendência entreguista ao capital internacional. As muitíssimas jornadas de luta de agosto estão sendo uma grande oportunidade para os brasileiros manifestarem que não aceitam retrocessos.
Se muitíssimos brasileiros, sobretudo trabalhadores e trabalhadoras, enchem estádios, mesmo em tempos de crise, pagando muito por isso; se abarrotam shows e frequentam maciçamente festas e celebrações religiosas; por que deixariam de se manifestar em favor de si próprios e do bem comum, em defesa dos legítimos direitos da classe trabalhadora? O que dizer sobre isso?
“Para não dizer que não falei das flores”, como cantava Geraldo Vandré, compositor e cantor que lutou contra a ditadura, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. A hora de mudanças profundas é agora. Por que esperar amanhã? Escute este canto, enxugue o seu pranto, encha-se de encanto! Saia às ruas! Lute pela verdadeira democracia. Faça parte dessa “romaria”!
Por falar em romaria, a Diocese de Jales realiza neste domingo, dia 21 de agosto, a sua 32ª. Romaria Diocesana. Participe! Junte-se a quem acredita que o Brasil muda com quem ama e luta.
Dom José Reginaldo Andrietta
Bispo Diocesano de Jales.
