O Papa Francisco, amado até pelos ateus, pelos protestantes e outras religiões, trouxe para a Igreja e para o mundo uma renovada esperança. A humildade que o Papa Francisco propõe e testemunha com a sua maneira transparente de ser revela-se, sobretudo, na óbvia e esquecida aceitação da nossa pobre e, ao mesmo tempo, sublime condição humana. Jesus nos diz que devemos “perder” a nossa vida para salvá-la e quem quiser salvá-la vai perdê-la.
Na nossa cultura atual, marcada pelo egoísmo e individualismo, temos dificuldade em perder ou gastar a própria existência por uma causa nobre. É curioso ver pessoas dita cristãs, que a certa idade, começam a se perguntar: o que eu fiz da minha vida? Elas têm a sensação de que não fizeram nada, que a vida passou rapidamente e ela não realizou aquilo que sonhou, parece que desperdiçaram a própria vida numa existência pobre, descolorida, insossa e sem graça. O mais curioso é ver que elas construíram e se dedicaram à uma família, têm filhos, até netos. Trabalharam a vida toda e, no final, sentem no íntimo da alma que tudo foi em vão.
Pois é exatamente isso que Deus nos pede: desperdiçar a vida. Ou em outras palavras mais suaves e bonitas, mas não menos exigentes: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la” (Marcos 8,34). O contrário é o orgulho e a mania de grandeza que nos fazem sonhar com uma ilusória vida fantasiosa e maravilhosa que só existe na nossa imaginação. Deus lida com a verdade da realidade e não com nossas mentiras douradas ou, pior ainda, nossas mentiras nobres!
A humildade é caminhar na verdade, escreveu S. Teresa de Ávila. Jesus disse que “a verdade vos libertará” (João 8,32) e São Paulo arrematou: “foi para a liberdade que Cristo vos libertou” (Gal 5,1). Portanto, quanto mais alguém é verdadeiro (humilde!) mais livre ele será. Para nós cristãos a verdade sobre o ser humano é a seguinte: toda pessoa possui dignidade infinita por ter sido criada como imagem e semelhança de Deus, ela é templo de Deus, ela é filha amada incondicionalmente pelo Pai. Ao mesmo tempo, por ser criatura, experimenta fragilidades e limitações como, por exemplo, a morte. Também por ter sido criada livre para decidir (livre arbítrio), comete erros e sofre suas consequências.
O sábio realismo do Papa Francisco nos convida a enxergar a realidade com verdade (humildade), sem falsos idealismos, palavreados, sentimentalismos, manias de grandeza, que mascaram a realidade, anestesiam a nossa consciência e não permitem a ação transformadora de Deus, cuja semente germina e dá frutos somente em terreno verdadeiro. A mentira nunca produz nada de bom.
Nesse realismo, levando em conta nossa frágil e limitada condição humana, sabiamente o Papa Francisco convida a todos os homens de boa vontade a simplesmente fazer “o bem possível”. Parece pouco, mas não é. Pois, fazer todos os dias o bem possível ao nosso redor, sem colher frutos imediatos, sem desejos de grandiosidades, sem receber aplausos ou agradecimentos, pelo contrário, receber críticas e desprezos e, mesmo assim, perseverar: eis aqui o verdadeiro heroísmo e a grandiosidade de um autêntico ser humano. Esse heroísmo discreto e “normal” o cristianismo o denomina: Fé. Essa pessoa que optou e lutou para realizar o bem possível até a morte recebe, na Igreja Católica, o título de: Santo.

Dom Sevilha, OCD.