Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no whatsapp

A passagem da pesca milagrosa do evangelho de Lucas (Lc 5,1-11) descreve uma multidão que “se comprimia ao redor de Jesus para ouvir a palavra de Deus” (v. 1). Jesus, com autoridade e sabedoria, “subiu numa das barcas e, sentando-se, ensinava as multidões” (cf. v. 2).

Ao pescador Simão, Ele ordena: “avança mais para o fundo, e ali lançai vossas redes para a pesca” (v. 4). Simão contestou: “mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes” (v. 5). Surpreendentemente, a pesca foi tão abundante, deixando Simão Pedro e os companheiros aturdidos e espantados. Arrependido pela incredulidade, Simão “atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: ‘afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador’!” (v. 8).

Continuando o diálogo, Jesus confiou a Simão uma missão: “Não tenhas medo! De hoje em diante tu serás pescador de homens” (v. 10). E chamou também Tiago e João, filhos de Zebedeu. Todos eles, “deixando tudo, seguiram Jesus” (v. 11).

Aquele episódio grandioso, acompanhado do diálogo e do encontro pessoal com Jesus, mudou completamente a vida de Simão Pedro e seus sócios de pescaria. Começava para eles um caminho novo, exigente e sem volta: seguir Jesus e dar a vida por Ele. Pedro, mais adiante, vai dizer: “Senhor, a quem iremos nós? Só tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68). É ele quem fará a solene profissão de fé: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (Mt 16,16). João é o discípulo amado, que permanecerá ao lado do Mestre, ao pé da cruz. Tiago será o primeiro dos doze a sofrer o martírio, no tempo de Herodes Agripa (At 12,2).

A partir do chamado destes primeiros, Jesus completa o grupo dos doze apóstolos (Mt 10,1-5), lançando as sementes da Igreja que iria se consolidar, em Pentecostes, com a vinda do Espírito Santo. Maria, sua mãe, presente na infância, no ministério público, aos pés da cruz e em Pentecostes, confirma-se como mãe da Igreja. Jesus é o pastor, o Espírito Santo inspira e conduz e Maria intercede!

Aproximando-se o final do século XX e do segundo milênio da era cristã, portanto, no limiar do terceiro milênio, o Papa João Paulo II, inspirado por este relato da pesca abundante do Evangelho de Lucas, convocou e exortou a Igreja, lembrando que era urgente “avançar para águas mais profundas”.

O Papa entendeu que a Igreja estava pescando pouco no grande mar da evangelização. Era preciso passar da superficialidade para a profundidade. São João Paulo II advertiu sobre o perigo da rotina e de se falar só para quem já estava dentro da Igreja. A palavra de Deus precisa chegar em todos os rincões, ser por todos conhecida, anunciada e proclamada: “o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres” (Lc 4,18). São João Paulo convocou os cristãos católicos a serem missionários e a empreenderem a Nova Evangelização.

Depois veio o Papa Bento XVI, que continuou a realizar as visitas missionárias do antecessor, bem como as Jornadas Mundiais da Juventude (Alemanha em 2005, Austrália em 2008 e Madri em 2011). Esteve no Brasil em 2007. Em São Paulo, reuniu os bispos, na Catedral da Sé, esteve com a juventude, no Pacaembu e, canonizou Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, na grandiosa celebração, no Campo de Marte. Em Aparecida, fez a abertura da V Conferência do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, reafirmando a opção preferencial da Igreja pelos pobres.

Em 2013, no início do seu pontificado, o Papa Francisco veio o Brasil, visitando o Santuário de Aparecida e presidindo a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. Seu testemunho é de uma Igreja acolhedora, que vai ao encontro de todos, isto é, às periferias geográficas e existenciais. Ele deseja uma Igreja samaritana que, cuida e socorre a todos, comparada a um hospital de campanha, onde os feridos são curados e os corações atribulados são confortados.

É necessário, diante das incertezas e sofrimentos dos dias atuais, ouvir sempre de novo a voz de Jesus encorajando a “avançar para águas mais profundas”. E, sobretudo, com a humildade e a fé do pescador Simão Pedro, dizer ao nosso Mestre e Senhor: “em resposta à Tua Palavra, lançarei as redes”.

 

Dom Pedro Luiz Stringhini

Mogi das Cruzes, 08 de setembro de 2022

Festa da Natividade de Nossa Senhora